A criança no útero fica protegida e
alimentada. Em gestação, seu corpo faz parte de outro corpo e a todo o tempo
são supridas as suas necessidades. Ao nascer, seu primeiro sinal de vida é um
forte grito para encher seus pulmões de ar. Sente-se solto em um grande útero,
mas ainda não tem noção de ter seu corpo separado do ambiente uterino. Para
ele, tudo continua como antes, só que agora ele precisa fazer coisas estranhas
como respirar e chorar para ser atendido, gerando ansiedade – medo instintivo
da morte –, fazendo com que ele queira o tempo todo atenção. Como já foi dito o
bebê não se difere de sua mãe. Não há separação de corpos, e a mãe que se
preparou desde a gestação para a maternidade, esquece durante esse período da
condição de mulher como indivíduo para assumir as responsabilidades das duas
vidas. Instintivamente, atende a todos os desejos da criança, colocando-a
muitas vezes à frente de suas necessidades.
O bebê procura o tempo todo o olhar da mãe numa tentativa de sanar a
ansiedade do desconhecido
Nas primeiras semanas o choro vai se
diferenciando e a mãe, ligada ao filho, começa a diferenciar o choro e
identificar os sinais emitidos para atender suas necessidades, período chamado
por Winnicott de holding. Sua atenção é importantíssima nesse período para o
desenvolvimento psíquico e motor ideal ao ser humano saudável. No contexto de
formação neurológica e psíquica é realmente importante este vinculo mãe-bebê. Deverá
ser profundo, afável e confortável, uma vez que terá repercussões importantes
no desenvolvimento da criança como ser humano. A falta deste contato poderá
causar perdas irreparáveis que vai do psíquico, motor à fala.
Por volta do quarto ao quinto mês, a
natureza feminina faz com que a mãe retome seu lado mulher/indivíduo. Em alguns
momentos, ela se afasta de seu bebê, deixando-o novamente ansioso – medo
original. Frustrado, é neste período que começa a formação do ego do bebê.
Apesar da mãe ainda continuar a emprestar o seu para ele. Para suprir a
ausência, muitas mães, oferecem outro objeto para distrair o bebê. Cobertor,
ursinho,... Muitas chamam estes objetos de “cheirinho”. Winnicot,chamou de
objeto transicional. Para ele, o objeto transicional ocupa um lugar de ilusão,
ele não esta dentro e nem fora da criança, mas serve para o bebê ir demarcando
o limite mental entre interno e externo.
Com a ausência da mãe, a criança começa
a diferenciar o que é bom do que é ruim. Quando a mãe não o atende é má. No
caso contrário, é boa. Para o bebê tudo ainda é físico e a mãe representa o
seio (lembrando que para ele, a mãe e ele são um só corpo). O objeto transicional
passa a ser importante para a criança, porque diferente do seio, que não está
presente constantemente, o objeto transicional está.
Neste movimento de doses homeopáticas
de ausência, a mãe vai contribuindo para o desenvolvimento de seu filho. Ele é
perceptível e neste momento o bebê começa a balbuciar alguns sons, que parecem
fazer sentido para os pais. Se tratando de som emitido pelos bebês, a criança
nos primeiros meses emite todo tipo de sons, inclusive aqueles que não
pertencem a sua língua.
Próximo ao sexto mês a criança descobre
uma espécie de vingança contra a ausência da mãe. Os dentes começam a despontar
e o bebê começa a morder o seio materno, surgindo ai um processo de destruição
do objeto ruim. Processo que configurará o desenvolvimento de amor e ódio. Além
do mais, através da sucção, mordida e deglutição, neste momento o bebê passa a
se alimentar, dando início ao desenvolvimento muscular dos órgãos de
articulação da fala. Apesar de ser importante que a mãe fale com o bebê desde a
gestação, aqui é fundamental que a mãe estimule de forma auditiva e afetiva
para desenvolvimento da linguagem dentro dos padrões normais. Segundo Pinker
(2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estarem completamente
formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período
proporcional àquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente
a idade na qual os bebês começam a falar, portanto, nasceriam falando.
É comum
as pessoas falarem de maneira infantilizada com a criança, mas é necessário que
se fale de forma normal, pois o bebê imita os sons da fala dos outros. A mãe
deve observar os estágios motores da criança, firmar pescoço, sentar,
engatinhar e andar, para as crianças andarem normalmente é necessário seguir
esta etapa. Próximo ao décimo mês, o bebê bate palminha e interage com o outro.
Segundo Winnicott o bebê nasce com um
potencial inato de se desenvolver, mas vai depender da mãe, que neste estagio é
chamada de ambiente e que cada criança responderá ao ambiente de forma
particular. Para ele a dependência infantil, se divide em dependência absoluta,
quando o bebê depende absolutamente da mãe e, dependência relativa, quando o
bebê ainda depende da mãe, mas já começa a diferenciar o interno do externo.
Introjetando os cuidados da mãe, o bebê desenvolve confiança no ambiente e se
caminha para uma quase independência. Quase independência, porque o bebê humano
é o único que depende dos pais até chegar à fase adulta.
É necessário criar um
espaço lúdico no dia a dia da criança, porque brincadeiras aparentemente simples
são fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo e também
uma forma de autoexpressão. Winnicott,
também vê a brincadeira como forma de expressão da criança, para ele o brincar
equivale a uma terapia, descreve a psicoterapia como duas pessoas brincando.
A afetividade e
cuidado da mãe é importante para o desenvolvimento da estruturação mental da
criança. Estudos revelam que uma criança que permanece sem estimulação física e
mental, certamente apresentará sérias anomalias em sua evolução. Winnicott
observou que a falta de afeto da mãe causa uma perda importante no aspecto
psicológico da criança causando depressão ou manifestação de comportamento
antissocial.
Schmitz
(2005), a criança que sofreu privação materna precoce pode ser acometida por
transtornos do ego como profundo masoquismo, dependência excessiva e caráter
delitivo e estado depressivos do adulto. Além disso, pode apresentar forte
tendência á relações sexuais promíscuas e furtos.
A privação materna traz angustia,
sentimentos de vingança, insegurança e como consequência, o retardo mental,
atraso no desenvolvimento da linguagem, incapacidade de relacionamento adotando
um caráter antissocial além de distúrbios regressivos e delinquência. Portanto,
o afeto materno de forma moderada é muito importante para o desenvolvimento da
criança.
Referências
Kriwet, J. & L. Schmitz (2005): New insight into the
distribution and palaeobiology of the pycnodont fish Gyrodus. Acta Palaeontologica
Polonica
PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem.
São Paulo: Martins Fontes, 2002.
WINNICOTT, D.W. Objetos Transicionais e fenômenos transicionais. In Textos Selecionados – Da Pediatria à
Psicanálise. Trad. De Jane Russo. Ed. Francisco Alves Editora S.A. RJ.1978.